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Obesidade, um Problema de Saúde pública

Nos EUA, na Europa e mesmo em países de economia emergente é alta e crescente a prevalência da obesidade na população. A organização Mundial de Saúde (OMS) a reconhece Omo uma doença que já atinge proporções epidêmicas no mundo todo, sendo, portanto caracterizada como uma pandemia.

Na Inglaterra, no período compreendido entre 1980 e 1993, a população obesa aumentou em 50%. Os epidemiologistas americanos estimam que, se mantidos os padrões atuais de aumento de prevalência, 100% da população americana será obesa no ano de 2025.

No Brasil, estamos vivenciando a chamada transição nutricional. O número de obesos dobrou entre 1975 e 1997. Dados de 1991 revelaram que 8,5% da população é desnutrida, enquanto 32% tem sobrepeso (IMC 25-30)e 8% são obesos (IMC maior que 30). Urbanização, industrialização, sedentarismo e aumento do teor de gordura da alimentação são possíveis fatores causais deste fenômeno. Tal aumento foi observado em ambos os sexos e em todas as classes sociais; o único segmento que apresentou queda da prevalência foi o de mulheres na região Sudeste, em particular as pertencentes ao quarto quartil de renda, ou seja, as 25% mais ricas, provavelmente pelo melhor nível de informação a que tiveram acesso. Já a prevalência da obesidade na adolescência correlaciona-se com o grau de riqueza da região, sendo mais prevalente nas regiões mais desenvolvidas e urbanizadas (Sudeste e Sul). É maior em meninas que em meninos em todas as regiões brasileiras.

Devido ao aumento mundial e à importância da obesidade pelas doenças que ela pode acarretar, a Organização Mundial de Saúde criou uma força-tarefa internacional para a obesidade (International obesity Task Force) com o objetivo de conscientizar e ajudar os profissionais da área de saúde a tratar eficientemente o desafio da obesidade na prática clínica diária.

A obesidade é o aumento do peso corporal devido a um excesso de tecido gorduroso, resultado da interação de vários fatores, tais como os genéticos e os ambientais (alterações do comportamento, aumento da ingesta calórica e redução do gasto energético correspondente a essa ingesta).

Em geral, os pacientes obesos experimentam grandes repercussões psicológicas, tais como baixa auto-estima, quadros depressivos e ansiosos, que freqüentemente são agravados pelo massacre exercido pela mídia para se tentar obter um padrão de beleza em que o peso tido como ideal fica abaixo dos níveis aceitáveis como normais.

Em termos físicos, os pacientes obesos apresentam maior incidência de infecções cutâneas causadas por fungos e bactérias, além disso, por sobrecarregarem a coluna vertebral e os membros inferiores, podem apresentar a longo prazo degenerações (artroses) de articulações da própria coluna, do coluna, do quadril, joelhos e tornozelos; doença varicosa superficial e profunda (varizes) com úlceras de repetição e às vezes erisipela.
A obesidade é fator de risco para uma série de doenças e distúrbios, entre os quais podemos citar: 

DOENÇAS

- Hipertensão Arterial

- Doenças Cardiovasculares

- Doenças Cérebro-Vasculares

- Diabetes Mellitus Tipo II

- Alguns tipos de Câncer (Endométrio, Mama, Próstata, Colon)

- Artrose

- Discopatias

- Coledocolitíase

 DISTÚRBIOS

- Distúrbios Lipídicos (aumento de LDL-Colesterol e diminuição de HDL-Colesterol)

- Hiperinsulinemia

- Intolerância à glicose

- Distúrbios Menstruais e/ou Infertilidade (ovários polimicrocísticos)

- Apnéia do sono

- Hiperuricemia

 Por apresentarem em geral associações de doenças e distúrbios ligados ao excesso de peso, os pacientes obesos têm uma diminuição de sua expectativa de vida e também uma piora acentuada em sua qualidade.

O diagnóstico é feito através da avaliação do índice de Massa Corporal ou IMC, recomendado inclusive pela Organização Mundial de Saúde. Esse índice é calculado dividindo-se o peso do paciente em kilogramas (Kg) pela sua altura em metro ao quadrado (m2). O valor assim obtido estabelece o diagnóstico de obesidade e caracteriza também os graus de riscos associados à mesma.

IMC (Kg/m2)

Grau de Risco

Tipo de obesidade

18 a 24,9

Peso saudável

Ausente

25 a 29,9

Moderado

Sobrepeso (pré-obesidade)

30 a 34,9

Alto

Obesidade Grau I

35 a 39,9

Muito Alto

Obesidade Grau II

40 ou mais

Extremo

Obesidade Grau III

 A obesidade pode ser classificada de acordo com o tipo de deposição da gordura em:

Obesidade difusa ou generalizada;

Obesidade andróide, troncular ou centrípeta, que está associada com maior deposição de gordura na região abdominal e intravisceral e se relaciona intensamente com alto risco para ocorrência de doenças metabólicas e cardiovasculares (Síndrome Metabólica). É também denominada obesidade em maça.

Obesidade ginecóide, na qual a deposição de gordura se dá predominantemente na região do quadril, fazendo com que o paciente apresente uma forma corporal semelhante a uma pêra. Está associada a um maior risco de artrose e varizes de membros inferiores.

Com base nessa classificação, criou-se um índice denominado relação cintura-quadril, que é obtido pela divisão da circunferência da cintura abdominal pela circunferência do quadril do paciente. De uma forma geral se aceita que existem riscos metabólicos quando a relação cintura-quadril for maior do que 0,9 no homem e 0,8 na mulher. A simples medida da circunferência abdominal também já é considerada um indicador de risco para complicações da obesidade, definida de acordo com o sexo do paciente:

 

Risco aumentado

Risco muito aumentado

Homem

94 cm

102 cm

Mulher

80 cm

88 cm

 A gordura corporal pode ser estimada também através da medida das pregas cutâneas, do cálculo da bioimpedância, da tomografia computadorizada, do ultrassom e da ressonância nuclear magnética. Essas últimas técnicas são utilizadas apenas em alguns casos de pesquisa clínica e não como método de rotina.

A obesidade pode ser classificada de acordo com suas causas. As quais são:

Obesidade por distúrbio nutricional;

Obesidade por inatividade física;

Obesidade secundária a alterações endócrinas;

Obesidade secundária a distúrbios não endócrinos; e

Obesidade de causa genética.

A avaliação do paciente obeso deve incluir anamnese e exame clínico detalhados, e de acordo com o resultado dessa avaliação, o médico irá investigar as possíveis causas do distúrbio. Sendo às vezes, necessária a realização de alguns exames específicos.

O tratamento da obesidade envolve necessariamente uma reeducação alimentar, o aumento da atividade física e, eventualmente, o uso de algumas medicações, dependendo da situação de cada paciente. Em alguns casos pode estar indicado uma abordagem de mudança comportamental, envolvendo avaliações psicológicas e até psiquiátricas. Nos casos de obesidade secundária a outras doenças, o tratamento deve inicialmente ser dirigido para a doença básica que esteja causando o distúrbio.

Reeducação Alimentar

A Reeducação alimentar é fundamental, uma vez que, através dela, reduziremos a ingesta calórica total e o acúmulo calórico excessivo decorrente dela. 

Exercício Físico

É importante considerar que a atividade física implica em movimento corporal produzido por músculos esqueléticos, o que resulta em gasto energético aumentado e conseqüente melhora e manutenção do condicionamento físico. O exercício apresenta uma série de benefícios para o paciente obeso, além do simples gasto calórico, tais como diminuição do apetite, aumento da ação da insulina, melhora do perfil lipídico, melhora da sensação de bem-estar e auto-estima.

Medicamentos

A utilização de medicamentos como auxiliares no tratamento da obesidade deve ser realizada com cautela, não sendo em geral o aspecto mais importante das medidas a serem empregadas. O médico que os prescreve deve faze-lo de forma judiciosa, e deve conhecer toda sua farmacologia, indicações e contra-indicações.

Os medicamentos atualmente disponíveis para tratamento da obesidade podem ser classificados de acordo com seu modo de ação, conforme apresentado a seguir.

MODO DE AÇÃO

NOME DA SUBSTÂNCIA ATIVA

Catecolaminérgicos

Fenproporex, Anfepramona ou DietilpropionaMazindol

Serotoninérgicos

Fluoxetina, Sertralina

Serotoninérgicos e Catecolaminérgicos

Sibutramina

Inibidores da Absorção de Gorduras

Orlistat

Procedimentos Cirúrgicos

Cirurgia Bariátrica – É indicada para o tratamento da obesidade mórbida e também nas seguintes situações:

Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 40 Kg/mou IMC entre 30 e 40 quando existir uma patologia associada capaz de ser melhorada com a perda de peso.

Obesidade estável há pelo menos 5 anos.

Fracasso em regimes alimentares ou medicamentosos há mais de um ano.

Ausência de patologias endócrinas descompensadas.

Compreensão e cooperação satisfatória do paciente.

Ausência de dependência em relação ao álcool e drogas.

Riscos operatórios aceitáveis.

Uma solução cirúrgica pode ser considerada apenas quando todas as condições acima estiverem presentes.

Os critérios de seleção se referem ao consenso da American Society of Bariatric Surgery.

Lipoaspiração e Dermolipectomia

Algumas pessoas pensam que a lipoaspiração é um tratamento para a obesidade, mas ela é, essencialmente, um procedimento estético que remove cirurgicamente depósitos adiposos locais com um aparelho semelhante a um aspirador. A lipoaspiração não reduz riscos de comorbidades associadas à obesidade, e a gordura removida é geralmente substituída por novas reservas de gordura, a menos que o indivíduo mude seus hábitos alimentares. Deve ser reservada para casos nos quais após perda satisfatória e manutenção de peso perdido, permanecem depósitos localizados de gordura.

A dermolipectomia é empregada para remoção de dobras de pele no abdômen e nos membros, decorrentes da perda maciça de peso, particularmente após a cirurgia bariátrica.

Conclusão

O tratamento da obesidade envolve necessariamente um acompanhamento multiprofissional, com mudanças no estilo de vida e também de comportamento.

 

 

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